“E esse cabelo aí? Vai arrumar”: mulher negra denuncia racismo dentro de escola em Joinville
Por Administrador
Publicado em 11/04/2025 06:37
Segurança

O cabelo crespo de uma mulher negra foi alvo de uma fala racista dentro de uma escola de Joinville. O caso foi denunciado por Paula de Oliveira Conceição, que atuava como estagiária na unidade de educação. A jovem de 29 anos trabalhava normalmente quando foi surpreendida pela diretora pedagógica que disse: “e esse cabelo aí? Vai arrumar”.

 

 

 

O caso aconteceu no dia 3 de abril no Centro de Educação A Aldeia do Sol, uma escola particular de Joinville. Paula conta que saiu do banheiro e foi conversar com a mulher, que estava acompanhada de outra pessoa. Ao chegar na dupla foi surpreendida pela fala. Paula, que é uma mulher negra e de cabelo crespo, conta que outras funcionárias andam com os cabelos soltos e que nunca foram cobradas sobre “arrumar o cabelo”.

 

— Meu cabelo faz parte da minha identidade, de um determinado grupo. Ela se achou na liberdade de olhar para mim em um determinado lugar onde não tinha monitoramento de câmera, eu acho, onde ela se viu protegida, e soltou essa frase. Naquele momento eu não tinha processado a situação porque por muito tempo as pessoas negras foram colocadas nesse lugar de coação, onde a gente chega a pensar também, ‘será que foi isso mesmo?’ — conta Paula sobre o ocorrido.

 

 

 

 

Depois, a estagiária retornou para a sala de aula e trabalhou normalmente. Ainda assim, ela explica que pensou em largar tudo e ir embora, mas se manteve em sala de aula. 

 

No dia seguinte, marcou uma conversa com a equipe de Recursos Humanos para denunciar o caso internamente. Segundo Paula, neste momento, a escola assumiu o ato de racismo e propôs que ela continuasse trabalhando no local, mas como uma espécie de auxiliar de diversidade, para que fossem apontados os erros e ensinado a forma correta de tratar de assuntos como a questão racial, por exemplo.

 

— É como se fosse andar do seu lado e se você cometesse algum ato eu ficar ali: “não, não é desse jeito, é assim, é errado”, sendo que são pessoas que estão no ramo da educação há muito tempo, que sabem, de fato, o que é racismo, estão bem consciente das coisas. Insistiram para que eu ficasse, mas eu deixei claro que eu não ficaria nessa instituição porque eu não aguentaria passar pelos corredores a todo momento e dar de cara com a pessoa que foi racista comigo, que me fragilizou e que me fez revisitar feridas que há muito tempo eu não visitava — diz Paula com tristeza.

 

Depois de maturar o ocorrido e conversar com algumas pessoas, a jovem recebeu apoio e orientação para que registrasse um boletim de ocorrência contra a diretora pedagógica. A denúncia na Polícia Civil foi feita na segunda-feira (7) como injúria racial, crime cometido contra uma pessoa em específico, enquanto o crime de racismo configura quando o preconceito é praticado contra um grupo, a coletividade.

 

A Polícia Civil informou que um inquérito policial já foi aberto para investigar o caso. Porém, como a investigação ainda está no início, não há informações mais robustas a serem passadas no momento.

 

A vítima também conta que os participantes do Movimento Negro Maria Laura foram os responsáveis por seu acolhimento, já que a escola não teria dado suporte a ela.

 

— A instituição [escola] é regida pelos psicólogos e até agora ninguém veio me dar um apoio psicológico. Se não tivesse eles [movimento negro], talvez eu nem tivesse dado esse passo. É bem importante ter esse apoio — conta Paula.

 

Agora, a jovem aguarda os desdobramentos do caso, espera um posicionamento da escola e a responsabilização pela injúria racial que sofreu.

 

O que diz a escola Aldeia do Sol sobre a denúncia de racismo

Em nota, o Centro de Educação A Aldeia do Sol lamentou o ocorrido e informou que afastou a diretora pedagógica para que os processos de escuta e reestruturação institucional possam ocorrer com o cuidado e a responsabilidade necessários. 

 

“Entendemos que estamos em constante aprendizado; no entanto, reiteramos que a fala registrada é específica, individual, e não representa os valores da escola”, informou a instituição.

 

A escola ainda destacou que no dia seguinte ao ocorrido, em 4 de abril, a estagiária solicitou uma reunião e, conforme a Aldeia do Sol, gravou o áudio da conversa sem o conhecimento das partes envolvidas. Também enfatizaram que a mulher fez o pedido de desligamento sem que houvesse tempo para um diálogo ou para busca de uma solução interna.

 

Além do afastamento da diretora pedagógica, a instituição também afirmou que, apesar de buscar diariamente o conhecimento e o letramento nas áreas da diversidade, equidade, inclusão e antirracismo, irão dar início a um plano de ação ainda mais estruturado, a ser desenvolvido e aplicado não apenas para os profissionais, mas também para as famílias e crianças. “Essas ações têm início já neste mês, como demonstração clara do nosso compromisso e da seriedade com que tratamos este tema”, finalizou a nota.

 

Veja nota completa 

Desde o dia 8 de abril, está sendo veiculado um vídeo nas redes sociais sobre uma denúncia de racismo ocorrido em nossa escola. O Centro de Educação a Aldeia do Sol lamenta profundamente o ocorrido, reconhece a dor gerada e reafirma o nosso compromisso com a escuta ativa e respeitosa.

 

Com 26 anos de atuação, diversos projetos pedagógicos desenvolvidos e mais de mil crianças atendidas, sempre pautamos nosso trabalho em valores que prezam o respeito e a equidade, direcionando nossos esforços para promover uma educação melhor e mais humana.

 

É importante salientar alguns pontos não apresentados no vídeo veiculado no dia 8 de abril: o fato em questão ocorreu em 3 de abril; no dia 4 de abril, a própria estagiária solicitou uma reunião, ocasião em que foi gravado o áudio da conversa, sem o conhecimento das partes envolvidas; no encontro, estagiária prontamente fez o pedido de desligamento sem que houvesse tempo para um diálogo ou para buscarmos uma solução interna.

 

Diante das proporções e da seriedade do ocorrido, decidimos pelo afastamento da diretora pedagógica, para que os processos de escuta e reestruturação institucional possam ocorrer com o cuidado e a responsabilidade necessários. Entendemos que estamos em constante aprendizado; no entanto, reiteramos que a fala registrada é específica, individual, e não representa os valores da escola.

 

Apesar de buscarmos, dia após dia, o conhecimento e o letramento nas áreas da diversidade, equidade, inclusão e antirracismo, agora, mais do que nunca, teremos um plano de ação ainda mais estruturado, a ser desenvolvido e aplicado não apenas para os nossos profissionais, mas também para as famílias e crianças, promovendo o diálogo e a escuta ativa. Essas ações têm início já neste mês, como demonstração clara do nosso compromisso e da seriedade com que tratamos este tema.

 

Fonte;Nsc

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